Prova dos nove
Texto retirado da coluna do JOSÉ LUIZ PORTELLA no Jornal LANCE de 29/02/2012
Este artigo serve para todos. Não somente aos “professores” do futebol
Prova dos nove
Volta e meia, a mídia qualifica um dos nossos “professores” de “estudioso do futebol”. Na maior parte dos casos, não há evidências práticas de que seja verdade. Nada era e foi mais previsível do que o jeito de jogar do Barcelona contra o Santos. Tido como um desses estudiosos, Muricy não possuía nenhum antídoto: nem arranjo tático nem, sequer, jogadas específicas. Foi para o matadouro com aquela filosofia do “Deixa que eu chuto”. “ O negócio é jogar”. Muricy não é o único. Ele é padrão. Assiste a vídeo, como tantos outros. Só que assistir a vídeos não é estudar. É ver. Estudar é juntar informações de forma sistematizada para adquirir um conhecimento. Informações memorizadas ou arquivos digitais , soltos, sem ligação e conclusão, tendem ao esquecimento. Não servem para nada. Como a maior parte dos dados da internet. Se o estudioso não organizar esses dados e absorver um novo conhecimento a ser reproduzido, é tudo arquivo morto. Ainda assim, só adquirir o conhecimento não basta. Tem que saber aplicá-lo. É o caso de muitos alunos que recebem notas brilhantes na vida acadêmica, e , depois de formados, não tem uma vida de destaque. São teóricos.
No futebol, a grande maioria dos técnicos não chega nem ao nível do teórico. Dispõem de informações e usam aleatoriamente alguns fiapos dela.
O futebol está cheio desses factoides.
Muita gente fala da Lei Pelé sem lê-la. Emite opiniões categóricas sobre empresários e responsabilidade dos dirigentes sem qualquer conhecimento da norma que rege o assunto.
As estatísticas estão aí para demonstrar a tese do falso estudo. Americanos são vidrados em estatísticas do esporte. Eles as usam muito mais que qualquer um. Quando preparadores físicos nossos começam a adquirir mais cultura e abertura para o mundo, como Claudio Coutinho, o futebol brasileiro embarcou nos “scouts”. Assim, em inglês.
Adoravam usar a palavra, dispensando a língua pátria, porque isso passava ideia de sofisticação e conhecimento. O complexo de vira-latas ainda leva muita gente a esconder-se atrás de expressões em outros idiomas. É importante domina-los, mas não é preciso falar de forma anfíbia.
Pranchetas e “laptops” são usados durante as partidas com inúmeros auxiliares técnicos dos “professores”. Nunca se soube o que fazem com eles. Nunca se viu alguém demonstrar, na prática, o uso desses dados.
As estatísticas permitiriam que muitos técnicos não incorressem nos recorrentes erros que cometem. Na prática, há muita papagaiada e pouca aplicação.
É só tirar a prova dos nove.