Futebol x Álcool

A polêmica está de volta: bebida nos estádios de futebol, sim ou não. Começa a tomar corpo esse grande debate.
Os contrários à liberação da cerveja dizem que sua proibição reduz a violência nos estádios, os torcedores não dirigem alcoolizados na volta pra casa e tudo mais que sabemos dos malefícios do álcool.
Vou contra o senso comum: sou a favor!
Primeiro temos que tratar a violência nos estádios como determina a lei. É crime. Cumprir a lei já seria um bom começo. Rigor para os meliantes. Eles não são torcedores. São bandidos uniformizados.
A lei é inócua, pois não atinge os arredores dos estádios. Bares, barraquinhas e tudo o mais que, sem fiscalização, vendem todo tipo de bebida. E vendem bastante, para abastecer as duas horas seguintes sem bebidas lá dentro.
Não é a bebida nos estádios que aumenta a violência. É a falta de segurança. Punição dura aos responsáveis. Se for para acabar com a violência nos estádios, que se tente acabar também nas casas noturnas, bares depois de determinadas horas, shows e tudo o mais.
Só para constar entre outras, Oktoberfest, Sommerfest, Festival de Butecos, Stammtisch, isso tudo só em Blumenau.
Liberam Choperia até em Parque Público como é o caso do Ramiro Ruediguer.
E não querem liberar cerveja nos estádios de futebol?
Ops, ia esquecendo: Parabéns Blumenau: Capital Nacional da Cerveja.
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Seja o NÚMERO 1

O segundo homem a pisar na Lua não entrou para a história. Ninguém lembra de quem ganhou a medalha de prata. O filme em segundo lugar nas bilheterias não fatura um pouco menos, fatura muito menos que o primeiro.

Justo? Injusto? Herança genética que faz o clã seguir o macho alfa? Conspiração capitalista? Como você quiser. O fato é que é assim. É mais assim ainda em época de crise econômica. E apesar de termos consciência disso, raramente agimos de acordo.

É a estratégia mais tiro-e-queda que eu conheço para ganhar dinheiro: ser o número 1. Significa ser a primeira marca em que o cliente potencial pensa, quando está pensando em uma categoria de produtos. Tem um milhão de empresas boas por aí, oferecendo produtos e serviços bons. E muito poucas oferecendo aquela coisa imperdível, que você não pode viver sem. Essas têm uma vantagem competitiva absurda. Atraem mais consumidores, mais atenção, mais investimentos, mais tudo.

Isso não tem nada a ver com market share. Não se trata de ser o maior. Nem o primeiro a chegar ao mercado. Nem o mais inovador, sustentável, a melhor empresa para trabalhar. Parabéns para a empresa que mais inova, menos polui e é ótima empregadora. Mas estou falando de outra coisa.

Difícil eu escrever sobre negócios. A razão é óbvia: é minha área e, francamente, não vou entregar o ouro assim para qualquer um que está passando na rua… fora que, nesses anos todos como jornalista e blogueiro, já dou pitaco sobre tanta coisa, não vou dar uma de guru sabe-tudo do business.

Mas montei minha primeira empresa em 1993. De lá para cá montei outras, vendi, investi, desinvesti, dei muita cabeçada e também dei sorte de vez em quando. Ganhei umas, perdi outras, aprendi um bocado. Então abro uma exceção para dar essa dica, porque de fato sei algumas coisas sobre negócios. E de fato, o ano de 2016 está pedindo. Tenho visto tanta gente se dando mal com suas empresas que me sinto na obrigação a compartilhar uma das poucas coisas que aprendi. Aprendi principalmente a focar no que é mais importante.

O foco em ser o número 1 é uma coisa que raramente aparece em livros de gestão e blogs de empreendedores. Se você trabalha em uma empresa, é importante entender exatamente o que significa ser o número 1. Se você é o fundador ou gestor de uma empresa, é mais importante ainda.

Vou dar um exemplo muito claro, de um ramo que conheço muito: a indústria de Livros. Quem é a editora número 1 do Brasil neste momento?

A Darkside é a editora número 1 do Brasil.
A Aleph é a editora número 1 do Brasil.
A JBC é a editora número 1 do Brasil.
A Ideal é a editora número 1 do Brasil.
Não conhece nenhuma delas? Não se culpe.

É porque você não é fã de Terror, Ficção-Científica, Mangá ou Rock, respectivamente os segmentos em que elas são focadas, e em que cada uma delas é indiscutivelmente a número 1. As quatro têm produtos excelentes, catálogos focados, comunicação orgânica e eficiente com os fãs de cada um desses gêneros.

Mas quem é a editora número 1 do Brasil “de verdade”?

A pergunta não faz sentido e a resposta não importa pra ninguém. Certamente é uma editora gigantesca, que atua em um monte de segmentos, e publica todo tipo de livro para todo tipo de leitor. E nenhum leitor compra seus livros por ser dessa editora. Então qual a vantagem de ser a maior, sem ser a número 1?
Uma empresa com essas características é, principalmente, um grande alvo.

Hoje, com a facilidade da comunicação digital, é viável você criar uma marca que é a número 1 para um número suficiente de consumidores. E se for mesmo, deixam de ser consumidores e viram fãs, amigos, evangelizadores. Clientes fiéis – enquanto você for o número 1. Escorregou para o segundo lugar, tchau.

Depois de todos esses anos, aquela história de Cauda Longa finalmente faz sentido. Mas de uma maneira diferente do discursinho “tem espaço para todo mundo”. Tem nada. Tem é espaço para toda empresa que seja a número 1.
Essa estratégia vale só para o mundo editorial? Só para empresas de nicho? É coisa de “empresa de internet”?

Não mesmo. Vale para qualquer segmento. De qualquer tamanho. Vou dar um exemplo da minha vizinhança. Com a recessão, muitos bares e restaurantes da Vila Madalena andam às moscas. Mas o Galinheiro Grill segue cheio. Começou com uma portinha, hoje ocupa uma esquina gigantesca. Serve todo tipo de carne grelhada, com todo tipo de acompanhamento.

Mas o nome resume o que eles prometem e entregam brilhantemente. Eles fazem o melhor galeto grelhado da região. Há décadas. Sem falha. Por um preço honesto. O que significa preço honesto? Significa que você não se incomoda de pagar um pouco mais caro do que em outros lugares, porque o Galinheiro Grill é o número 1. Por isso vive cheio em plena crise.

Falar em grill dá sede de cerveja. Os brasileiros mais ricos do planeta usaram exatamente a mesma estratégia. O império global da 3G Capital começou com um insight. Em grande parte dos países emergentes, empresas familiares ganhavam rios de dinheiro com a sensacional margem de lucro que se materializa quando você transforma água em cerveja.

Lemann, Telles e Sicupira decidiram ser os cervejeiros número 1 do Brasil. E depois, do mundo. Têm outros negócios? Agora têm: Burger King, Kraft-Heinz – negócios que têm boa sinergia com o principal, que é cerveja. Mantêm a obsessão em ser o número 1 da cerveja, com distância cada vez maior do segundo colocado. E certamente querem ser o número 1 em fast food, salgadinhos e por aí vai. Clareza absoluta. O livro sobre eles chama “Pense Grande”. O que todo gestor tem a aprender com eles é: pense unicamente em ser o número 1.

Volto ao mercado editorial e a minha experiência pessoal. Durante alguns anos, fui sócio da editora de revistas número 1 para o público infanto-juvenil. Era a Conrad, e dominávamos bem esse segmento, com as revistas Herói, Pokémon Club, Nintendo World, EGM, Super Menina, Smack. E mais revistas de atividades, cards colecionáveis, adesivos. E mangás como Dragon Ball e Cavaleiros do Zodíaco.

Como estávamos ganhando um bom dinheiro, resolvemos diversificar. Tínhamos caixa para investir. E já que conquistamos tanto sucesso com esse público jovem, porque não teríamos com outros públicos também? Nada engana mais que fazer sucesso. Quando menos percebeu a gente já está se achando um gênio dos negócios.

Então criamos uma editora de livros para adultos. E investimos em revistas para adultos. As duas frentes se provaram muito difíceis. Exigiram muita dedicação da gente. Dedicação que deixamos de ter com o segmento que dominávamos. Foi distração e desperdício.

Tenho orgulho do que fizemos no segmento adulto, mas só como editor. Como empresário, tenho vergonha. Foi uma das maiores barbeiragens da minha vida.
Essa diversificação nos tirou do número 1. Foi o começo do fim, que para mim chegou em 2005, quando deixei a primeira empresa que fundei.

O caso mais evidente de empresa que só se deu bem quando decidiu ser a número 1 é o da Apple. Ao voltar à direção da empresa, em 1997, Steve Jobs não reconhecia a empresa que criou. A companhia tinha então uma linha de produtos gigantesca. Notebooks, desktops, o portátil Newton, impressoras, periféricos diversos. Para muitos segmentos: estudante, profissional, empresa. Cada um em diversas versões, para atender todos os tipos de consumidor possível e imaginável. E com diferenças específicas para cada um dos grandes varejistas, conforme suas especificações.

A Apple fazia de tudo. E não era a melhor em nada.

Jobs focou em ser o número 1. Não em tudo. Nem em computadores. Mas somente e exclusivamente a marca número 1 de computadores para pessoas criativas. Jogou fora toda a linha anterior de produtos da Apple. A nova linha teria só quatro produtos. Um desktop e um notebook para uso profissional de pessoas criativas, e um desktop e um notebook para uso doméstico de pessoas criativas.

Tirou o disk-drive dos computadores e botou todas em caixas coloridas e divertidas. O slogan reforçava que os produtos da Apple não eram para todo mundo, de propósito, eram só pra você, que é meio doido, criativo, especial (ou aspira a ser tudo isso): Think Different. E criou lojas doidas, criativas e especiais para vender seus produtos.

Todos esses anos depois, a Apple mantém exatamente a mesma estratégia: ser a marca número 1 para esse grupo. E todos esses anos depois, quantos outros produtos a Apple lançou? De importantes, pouquíssimos: o iPod, o iPhone, o iPad, todos indiscutivelmente o número 1 de sua categoria. Todos embalados no sistema operacional mais amigável, o iOS, e em serviços que mantém o seu consumidor fiel. Entrou para o mundo Apple, é difícil sair.

Importante lembrar que a Apple não inventou o MP3 Player, o smartphone, nem o tablet. E vale ressaltar que a Apple não tem o maior market share em nenhum dos segmentos em que atua. Mesmo assim, é a maior empresa do mundo em valorização de mercado e dá rios de dinheiro para seus acionistas.

É claro que existem muitos fatores que explicam fracassos e sucessos, não só um lema ou uma estratégia. Seja da Inbev ou do boteco da esquina. Você pode e deve desconfiar de receitas mágicas, ou de bilionários que parecem ter o “toque de midas”. Duvide de empresas que divulgam práticas empresariais angelicais e lucros recordes. Isso é sempre 90% propaganda e assessoria de imprensa.
Mas o foco em tornar a sua empresa a melhor na sua área de atuação – seja qual seja – dá uma clareza imensa. Força você a alinhar seus recursos, seu tempo, sua equipe, seu esforço pessoal. Independente do tamanho da empresa.

Sendo brutalmente honesto, o mundo dos negócios é uma guerra. Em ano de crise, com juro alto, desemprego alto, inflação alta, é guerra sem trégua. Então, caro amigo, vamos lutar por uma política econômica anti-recessão, gritemos por juros baixos, pela modernização da economia, pela defesa da renda do brasileiro, e principalmente pela proteção dos mais frágeis e necessitados. Mas enquanto lutamos pelo que é de todos, não descuide do que é seu. Resmungar do governo, qualquer governo, não paga as contas.

Sem querer me meter a guru e já me metendo, deixo o conselho: se eu fosse você, decidia nesse minuto ser O MELHOR em uma única coisa. Não sei de estratégia melhor para enfrentar o novo ano. Escolha seu front. E ataque com tudo. Foco total. Sem distração. Sem desvios, sem atalhos, sem ego.
Em 2016, seja o número 1.

Artigo de André Forastieri



O novo marketing esportivo

Mais informações em Blog do David Grinberg

Como informado no post da última semana, o blog traz uma análise sobre o tema vencedor da ENQUETE: o que fará o Brasil evoluir no MKT Esportivo? O texto é de autoria de um dos mais bem conceituados profissionais de gestão esportiva no Brasil e executivo altamente respeitado no setor…com a palavra, Cristiano Benassi.—————————————————————————————————————————Aceitei o convite do meu amigo David Grinberg para escrever sobre o resultado de sua enquete. Isso não é uma tarefa fácil, mas é, no mínimo, interessante poder colocar no papel (ou na tela) ideias que tenho sobre o assunto, baseadas no resultado da pesquisa (apurada até o dia 6/11/2015).

Interessante também lembrar que antes de receber o convite, durante uma conversa informal com colegas do mercado falamos muito sobre o tema. E o resultado final não foi surpresa para os quatro integrantes da mesa.

Vamos lá:

Em 3º lugar, com 25% dos votos: “Melhora nas ferramentas de avaliação dos planos de Marketing Esportivo”

Em 2º lugar, com 26% dos votos: “Comunicação mais efetiva, ampla e dinâmica sobre os conceitos do Marketing Esportivo”

E, em primeiro lugar, com 49% dos votos: “Capacitação de novos profissionais e/ou reciclagem de profissionais de Mercado”

Se você me perguntar se não considero importantes as respostas do terceiro e segundo lugar, minha resposta será: SIM. Acho muito importante. Mas, acho que elas podem ser parte da resposta vencedora: Capacitar novos profissionais e/ou reciclar os profissionais do mercado é uma estratégia vencedora.

Lembro que no nosso encontro estávamos falando sobre isso. Sobre o quanto o tema “Marketing Esportivo” evoluiu nos últimos 10 anos. O Marketing Esportivo deixou de ser apenas uma ferramenta do Marketing e passou a ser uma plataforma integrada com as mais diversas áreas das empresas, contribuindo diretamente com os resultados dos negócios.

Do ponto de vista Corporativo, o Marketing Esportivo continua tendo: emoção, garra, superação, trabalho em equipe, atingimento de metas e muitas outras qualidades que transcendem os gramados, quadras, piscinas, octógonos, pistas e por aí vai.

Acontece que nossa área evoluiu com o passar dos tempos. E as áreas ao nosso redor também! Isso quer dizer que o gestor esportivo teve que deixar o perfil “especialista” um pouco de lado e passar a desenvolver um perfil mais “generalista”.

Sim meu amigo. Para trabalhar com Esporte hoje em dia será muito bom você entender um pouco de mídia e de branding. Será interessante você estar ligado com o mundo digital, das redes sociais. Será bem estratégico você alinhar seu planejamento com a área de PR (Relações Públicas). Você não gosta muito de finanças, números e planilhas? Eu posso te entender. Mas será bom você correr atrás disso. Será importante também você estar integrado com a área de vendas, área de produto, área jurídica, de Trade Marketing. Enfim, temos que fazer mais parte do business. Entender não só o mercado, mas entender bem a empresa que trabalhamos e a maneira que ela realiza negócios.

Parece difícil. E é! Dá um belo trabalho.

Mas no fim do dia, quando você começa a entender um pouco mais sobre o escopo do trabalho adotado e o quanto a sua função pode ser importante para a empresa, o negócio fica mais legal!

Nesses últimos anos, os cursos acadêmicos sobre nosso setor proliferaram por todo o Brasil. Eu mesmo fui convidado em algumas oportunidades a ministrar aulas nesses cursos. Mais do que mostrar um case sobre a empresa que trabalho e como utilizamos o Marketing esportivo por aqui, procurei mostrar a esses alunos o quanto a área está mudando junto com todas as demais evoluções do mundo.

Isso é um movimento normal. Faz parte e não é uma exclusividade de nossa área. O que precisamos realmente é adaptar antigas estratégias às novas práticas. Precisamos ouvir o que o mercado demanda. O que realmente toca um consumidor.

Não estou dizendo que as ações de um passado recente estavam erradas. Pelo contrário. Poderíamos ficar discutindo grandes ações até perdermos as contas. Mas temos que entender que existe um espaço enorme para crescimento e amadurecimento estratégico.

Portanto, quando vi o resultado da pesquisa “Capacitação de novos profissionais e/ou reciclagem de profissionais de Mercado” não fiquei surpreso.

Aprender coisas novas não deve fazer parte apenas do dia a dia de novos profissionais ou de pessoas que estão buscando cursos profissionalizantes. Os profissionais atuantes hoje no mercado também precisam buscar esse algo novo, esse complemento.

Reciclar, adaptar, estudar. Isso faz bem para todo mundo!

Cristiano Benassi

Profissional da área de Marketing e Marketing Esportivo. Atuou por mais de uma década na Nike e atualmente é o Sênior Manager da área de Plataformas de Marketing na Samsung.



O que o Rock In Rio ensina ao esporte

O Rio de Janeiro viveu, na última semana, a euforia da realização de mais um Rock In Rio, festival de música que acontece bienalmente desde 2011 na Cidade Maravilhosa. Por algumas críticas que pude ver, o evento chamou a atenção dos analistas mais pela algazarra comercial em que se transformou do que pelo espetáculo em si (leia as opiniões de André Barcinski na Folha e de Alexandre Matias aqui no UOL).

Pelo que deu para ver neste fim de semana no Rio, pelas transmissões feitas pela TV e por um bocado de fotos espalhadas pelas redes sociais, realmente o Rock In Rio esteve mais para Everything In Rio. E os organizadores estão mais do que corretos em agir dessa forma.

Achar que o Rock In Rio deve se restringir aos shows de Rock, de preferência debaixo de chuva e pisando no barro, é ser nostálgico. É voltar a 1985 e achar que o jovem de 18 anos daquela época pensa da mesma forma e tem os mesmos anseios do jovem de hoje, com todas as transformações dos últimos 30 anos pelo caminho.

O que leva uma pessoa a um show (ou a um jogo de futebol, de basquete, de hóquei ou qualquer outra coisa) se não for pelos diferentes tipos de entretenimento disponíveis? Não basta ter um grande músico no palco, é preciso ter uma série de atrações que faça o cara desistir de acompanhar tudo online para decidir ir até lá compartilhar suas emoções online.

É preciso ter a tirolesa para tirar foto e mandar para os amigos. É preciso ter a loja oficial para comprar recordações (ok, a pretensa lama de 1985 passou do limite do bom senso). É preciso ter uma enorme praça de alimentação para que as pessoas se alimentem no local e continuem financiando uma reunião de diversos músicos, de diferentes estilos e gostos.

O Rock In Rio ensina para o esporte que, além do espetáculo, é preciso pensar na diversão de quem vai ao local. A maior revolução que tivemos de 1985 para cá é a de que a experiência de ver um show (ou uma competição qualquer) em casa, com todo o recurso tecnológico das transmissões, é muito mais rica do que estar no local ao vivo.

Sim, a emoção de poder dizer “eu fui” é muito mais valiosa do que esquentar a pipoca no microondas e tirar a cerveja da geladeira para ouvir uma música ou assistir a um jogo. Mas, por mais saudosistas que sejamos, é preciso entender que, para o público querer se deslocar e ver o evento ao vivo, é preciso oferecer muito mais do que o evento.

Há 30 anos, não havia como eu ver o Queen se não fosse indo ao show. Hoje, pelo celular, vejo todos os vídeos possíveis, os bastidores da gravação de um LP (naquela época era o “long play”), os erros e devaneios de um ensaio pré-show, etc. Por que, então, eu sair de casa para ver um show ao vivo?

Seja num estádio, ginásio ou espaço aberto como o do Rock In Rio, o evento de entretenimento precisa se transformar em vários eventos dentro de um só. Para atingir um público que vai além do fanático, para poder aumentar a receita com patrocínio, para poder dar retorno financeiro ao organizador.

No ano que vem o Rio passará pela experiência de receber os Jogos Olímpicos. De uma forma um pouco diferente, as Olimpíadas promovem diversas atrações para o torcedor que vão além do que só entrar na arena para acompanhar uma competição. São os espaços nos quais os patrocinadores podem fazer ações para o público e criar uma experiência exclusiva só para quem de fato foi ao Parque Olímpico.

Em todo o restante do espaço, a principal atração é a competição em si. Sem desvio de atenção, com a arena lotada e a preocupação de fazer do atleta o astro maior do evento. Se tem algo que o Rock In Rio pode aprender com as Olimpíadas é como fazer com que a sua marca e seus artistas sejam os principais elementos de uma grande festa para as pessoas.

O Rock In Rio pode ensinar muito para o esporte. Mas os organizadores também podem olhar com carinho como o COI trabalha a força da marca dos Jogos Olímpicos e dos seus atletas para fazer com que as lembranças de um dos maiores festivais de música do mundo sejam mais do que voltas numa montanha russa ou numa tirolesa…

Texto: Erich Beting



OPORTUNIDADE

Há alguns dias, em uma universidade, fizeram-me a seguinte colocação: mesmo com a Copa do Mundo e as Olimpíadas no Brasil o esporte não é prioridade. Concordei: não é e nunca será. Apesar de sua importância social, ainda somos um país onde a busca pela sobrevivência ainda é a prioridade maior. Alimentação, moradia, segurança, saúde e educação, eis o que defino como sobrevivência, algo que os governos não garantem nem asseguram, apesar de ser um dever constitucional. Como priorizar o esporte nesse contexto?

Mas falemos de esporte. Novos desafios se impõem a ele em nosso Estado. Não há mais como ficar dependente da boa vontade do governo que, sejamos francos, não consegue entregar o básico para nossa população.
A lógica tem que ser mudada, um novo ciclo tem que ser pensado. Repetidamente tenho dito que a Fesporte, quando faz política pública, o faz através de eventos esportivos, jogando todo restante da responsabilidade para os municípios , que participando, também acham que fazem política pública.

Profissionalizar a gestão da Fesporte é o grande desafio, dá para mensurar a dificuldade. Mas é necessário. Isso significa modelo de gestão menos dependente do Estado. Conciliar o lado social do esporte com o do negócio esporte, eis o que se quer e precisa. Uma guinada que olhe para o futuro, que faça o novo e, mais que tudo, faça o certo. Será uma novidade.

Ou isso, ou continuar apontando o dedo indicador na busca de culpados, esquecendo-se que neste gesto o polegar fica virado para nós. É para frente que se olha, é para frente que se anda.
Vamos lá!



Lógica fabril no mundo da bola

Lógica fabril no mundo da bola

Texto retirado do www.onegocioeesporte.com.br

Dourados pelo Mundial, os investimentos publicitários avançaram entre 8% e 9% em 2014, o suficiente para manter o país em sexto na área, atrás de Estados Unidos, China, Japão, Alemanha e Reino Unido. Movimentaram, segundo o Ibope Media, R$ 121 bilhões, dos quais 6% corresponderam à fatia formada por esporte, lazer e turismo. Para expandi-la, o segmento esportivo precisa adicionar outros ingredientes aos fermentos imediatos da Copa e dos Jogos Olímpicos, alertam os especialistas. Mais do que catalisadora de investidas publicitárias, a Olimpíada acumula a missão de transmitir ao capital estrangeiro a mensagem de que, não obstante a avalanche de escândalos de corrupção, a credibilidade prevalece. “A Rio 2016 tem de dar esse recado, porque a certeza de um ambiente sério e transparente é essencial para atrair mais investidores”, ressalta o diretor de Esportes da MBA Brazil (MediaCom Beyond Advertising), Armenio Neto, em entrevista ao programa O Negócio é Esporte (ouça a íntegra em www.onegocioeesporte.com.br). “A Olimpíada também deve abrir espaço para se investir em modalidades como o rúgbi, que vive um crescimento exponencial, e o renascido basquete, do qual a NBA virou sócia”, completa.

Numa das ações da MBA para os Jogos, Pelé é escalado como embaixador olímpico. “O embaixador perfeito”, sintetiza Neto, que comandou o marketing do Santos entre 2019 e 2013. Embora o rei tenha deixado o futebol há quase 38 anos (a recíproca jamais será verdadeira), Pelé segue um Pelé da propaganda. Aos 74 anos, mantém-se entre as celebridades mais reconhecidas do mundo. Assim confirma o Celebrity DBI (Davie-Brown Index), principal medidor de popularidade consultado pelas agências. O requisito aplica-se ao setor esportivo verde-amarelo: para beliscar uma participação maior na verba publicitária, impõe-se a entrada no camarote das marcas globais.

Neste ponto talvez se perpetue a maior distância entre a elite do nosso futebol e os batutas europeus. Neto pondera: “Para internacionalizar a marca, o buraco é mais embaixo. Não basta vender uniforme no exterior. Não basta contratar jogador estrangeiro. É um processo gradual, aprimorado, que exige estratégias globais, conteúdo e relacionamento. Requer dinheiro para investir, campeonato transmitido para importantes mercados externos e presença física, de tempos em tempos, em países-chave. É preciso contato direto e frequente com o consumidor do outro país, como numa sequência de pré-temporadas, para que os times passem a fazer parte do cotidiano do torcedor. Aí ele começa a se apaixonar, começa a ficar fã”.

O Manchester City, por exemplo, adota a franquia como passaporte global. Dono do sexto maior faturamento entre os clubes (o equivalente a R$ 1,4 bilhão na temporada 2013/14), o emergente inglês ataca de Melbourne City (ex-Melbourne F.C.) na Austrália e de New York City na Major League Soccer (MLS), o ascendente torneio dos Estados Unidos. Chega a vez dos trópicos? O executivo duvida:“Esse modelo, de franquia, não combina com o mercado nacional, embora ele seja receptivo a estratégias globais”. Receptividade estampada na página do tricampeão francês Paris Saint-Germain no Facebook: brasileiros beiram a metade dos 18 milhões de fãs.

O cenário sul-americano, observa o diretor da MBA, mostra-se mais propenso a negócios sob a “lógica fabril no mundo globalizado” estendida ao futebol: produção barata, com mão de obra qualificada, exportada aos grandes centros consumidores (americano, europeu, asiático).O diagnóstico reforça a importância, ao desejo de mais publicidade, mais investidores, de um marketing esportivo “além da venda de propriedade e de patrocínios”, dedicado a diversificar e combinar táticas de exposição e ativação de marca, empenhado em explorar novas fronteiras – inclusive de comunicação – e em espanar o pó dos jogos de soma zero. Um amadurecimento desafiado ainda por vandalismo na arquibancada, manobras parlamentares, boicote a nomes de estádios e equipes, conchavos administrativos, e outras pedras renitentes do caminho.



Mata-Mata

Sempre fui a favor dos pontos corridos há 12 anos incorporados no futebol, em especial no campeonato brasileiro.
Ao feitio do modelo europeu, para mim o mais apropriado.

Estádios cheios, clubes milionários, planejamento para o ano todo , um modelo de eficiência e sucesso.
Seria tão fácil imitar o modelo, copiar o que dá certo é inteligente. Mas não… não é assim e, pelo andar da carruagem, tão cedo não será. Ou nunca.
E aí é o que se tem visto: estádios vazios, clubes empobrecidos, programação desorganizada, excesso de jogos e crescente desinteresse pelo esporte que já foi o das multidões. Bem, continua sendo, mas até quando?
O jornalista Carlos Mansur diz que “o torcedor brasileiro vai ao estádio ver o time ganhar, e não para assisti-lo fielmente, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença”. Jeito de ser do brasileiro, é da cultura tupiniquim. Paixão sem paciência.
De qualquer modo, para garantir sobrevivência é necessária a fórmula de manter a chama acesa, o interesse coletivo. Talvez adotando um modelo misto, mesclando pontos corridos com mata-mata. Aliás, já foi assim, e se não era perfeito, era interessante.
Estamos sem times, sem craques – os campeonatos organizados e bem administrados de outros países levam todos -e sem futebol. Refiro-me àquele de encher os olhos e estádios…
Vale refletir.



Minha copa

Desde criança o futebol é uma paixão por causa da seleção brasileira. Nesses anos todos a paixão só aumentou. Alguns dizem hoje que é alienação, além de outras impublicáveis nesse momento em que as eleições se aproximam. Brigas e discussões de bar nos últimos dias se acaloram. Dizem que “ se a seleção ganhar o governo ganha”. A esquerda nos anos de chumbo dizia a mesma coisa. Pois bem: não será um partido político ou um governo que vai tirar de mim esta paixão, esta torcida pelo Brasil na Copa. Que se danem a esquerda , o centro ou direita; nenhum deles vai tirar de mim a emoção dessa copa no Brasil. Ninguem!



Falácia do planejamento

Um dos dogmas dos liberais é o de que o Estado é um péssimo gerente.
É provável. Mas será que a iniciativa privada se sai muito melhor?
Quando vieses cognitivos entram na jogada, a mão invisível pode funcionar bastante mal.
Os jornais dos últimos dias foram pródigos em notícias sobre atrasos e estouro nos orçamentos de obras da Copa, muitas delas tocadas por empresas concessionárias que só perdem com o mau planejamento. Por que, então, erros desse tipo são cometidos? Como as forças de mercado ainda não corrigiram essa falha? A resposta atende pelo nome de falácia do planejamento, que é a tendência de pessoas e instituições de subestimar o tempo e os recursos necessários para a realização de um projeto.
Embora o fenômeno tenda a exacerbar-se em países subdesenvolvidos como o Brasil, não se trata de uma exclusividade nacional. Há vários estudos mostrando não apenas que as falhas são recorrentes como também mensurando-as. Um bom exemplo é o dos trens: 90% dos projetos ferroviários realizados em todo o mundo entre 1969 e 1998 superestimaram em 106% o número de passageiros que usaria o transporte, com impacto negativo para o equilíbrio financeiro do negócio. Pior, mesmo cientes dessa tendência, os especialistas não foram capazes de corrigi-la. A falácia do planejamento foi identificada e batizada pela dupla de psicólogos Daniel Kahnemann e Amos Tversky e é uma das modalidades do viés de otimismo que afeta nossa espécie quando apreciamos nossas próprias capacidades.
O melhor remédio para esses casos é recorrer a visão de fora, isto é, esquecer todas as informações específicas que você tenha sobre o projeto que quer avaliar e utilizar como base a média de tempo e custos aferida para empreitadas parecidas. É só então que você deve proceder a módicos ajustes em função dos dados específicos. É bem contraintuitivo, mas funciona.
HÉLIO SCHWARTSMAN



Os chamados atletas estrangeiros

Os chamados atletas estrangeiros (2008)
Este artigo foi originalmente escrito em 2008, logo após uma reunião do CED, na qual apresentei informalmente uma proposta para debate, depois de acalorada discussão sobre as ditas transferências externas.
Nunca fui de ficar em cima do muro. No esporte tenho idéias claras, contestadas por uns, apoiada por outros. Foi sempre assim.
Entrei na discussão, dando alguns exemplos de “ regulações” de “mercado” no esporte. Citei dois exemplos recentes na época: o vôlei com o ranking de atletas e a F1 com restrições de motores, treinos livres , pneus e de outros esportes, para tornar mais equilibrada a disputa e evitar que o poder econômico ditasse os resultados esportivos.
Não é de hoje que debatemos, todos os anos, a questão da transferência de atletas de fora e de dentro do estado para os Jogos Abertos.
Esta discussão já foi parar inclusive na Assembléia Legislativa. Não há consenso. Nunca haverá. Todos os anos o Conselho Estadual de Desportos se debruça sobre a questão. Muda-se o regulamento aqui, muda-se ali, quase todos os anos o regulamento é mudado.
E daí? Mudam para tudo ficar igual, ou seja, nada melhora.
Em cada edição dos Jogos Abertos há um sentimento generalizado de que as importações de atletas devem acabar. Uns, para justificar a derrota; outros porque estão convencidos de que tiram a oportunidade de participação de atletas locais. E há os demagogos que, do alto de sua falta de conhecimento, apregoam que as importações estão “acabando com o esporte catarinense”.
Primeiro e mais importante: Os Jogos Abertos de Santa Catarina são competições de alto rendimento, que reúnem os melhores atletas do Estado. Do atleta olímpico ao atleta da mais remota cidade do interior.
Este abismo, em vez de desqualificar, qualifica, integra, motiva, faz com que novas gerações de atletas participem e busquem seu espaço.
Segundo: o número de transferências é limitado. Já acontece há mais de 49 anos. Sei bem porque cheguei a um Olimpíada. Tinha os Jogos como referencia. Fiz chegar ao CED proposta mudando este quadro: não podemos simplesmente acabar com isso; a história nos mostra que na maioria dos casos foram benéficas. Desenvolveram as modalidades, projetaram municípios .
Mas o que se vê hoje é uma desigualdade gritante nesta regra. Os maiores municípios em termos de população têm, conforme regulamento, os mesmos números de transferências que os municípios de menor número.
O que acontece de fato: os pequenos servem apenas para constar da tabela, resumidos ao papel de figurantes. É preciso inverter o quadro, dar oportunidade aos pequenos para se desenvolverem, para serem também protagonistas.
Somente 3 municípios catarinenses têm mais de 200 mil habitantes.
217, ou seja, 74% das cidades catarinenses tem menos de 10 mil.
Como uma cidade de 10 mil habitantes pode fazer esporte e participar ativamente do processo?
Ora, limitando as maiores cidades destas transferências e aumentando consideravelmente o número das pequenas. Obrigaria os grandes a efetivamente realizar o dito trabalho de base, hoje mais no discurso político do que na prática, auxiliando – aí sim – no combate às desigualdades sociais, já que os mesmos possuem considerável capacidade financeira e número de crianças a serem atendidas.
E assim propiciar as pequenas a formarem modalidades fortes, algumas, talvez, participando pela primeira vez dos Jogos Abertos, motivando e incentivando a prática esportiva no município, e tudo aquilo que sabemos que só o esporte consegue fazer.
Unindo cidadãos, quebrando barreiras sociais, econômicas, raciais. Num mesmo time, raças diferentes, religiões diferentes, pobres e ricos.
Oportunidades diferentes a cidades diferentes.
Tenho certeza, as cidades e os Jogos Abertos nunca mais serão os mesmos. Todos de fato poderão participar.
Ah, tem mais uma coisa: serem aplaudidos também.